Brasileira presa no Camboja é julgada por tráfico de drogas, mas resultado só sai em novembro, diz família
23/10/2025
(Foto: Reprodução) Brasileira presa no Camboja é vítima de tráfico humano, adoeceu na prisão e família perdeu R$ 27 mil em golpe, diz família
Arquivo Pessoal
A brasileira Daniela Marys de Oliveira, 35 anos, que está presa no Camboja, foi julgada por tráfico de drogas na madrugada desta quinta-feira (23). Segundo a mãe dela, o resultado do julgamento só será divulgado no dia 12 de novembro. Se condenada, de acordo com as leis do país, a pena pode chegar a 20 anos de prisão.
Arquiteta, Daniela se mudou para o Camboja, país no Sudoeste Asiático, no começo de 2025 para assumir uma vaga em telemarketing, mas, segundo a família, foi vítima de tráfico humano, e, quando decidiu não participar de um esquema de golpes na internet, criminosos forjaram um flagrante contra ela, implantando cápsulas de droga no local onde ela estava.
Em 2004, o Brasil ratificou o Protocolo de Palermo por meio do Decreto nº 5.017, comprometendo-se internacionalmente com a prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, especialmente de mulheres e crianças. O documento, adotado pela ONU, estabelece que o consentimento da vítima é irrelevante quando obtido por meio de fraude, coação ou abuso de poder.
Ou seja, mesmo que Daniela tenha aceitado ir ao Camboja para trabalhar em um esquema de telemarketing, se essa decisão foi influenciada por engano ou exploração, ela ainda é considerada vítima de tráfico humano segundo o protocolo. Essa interpretação é reconhecida por organismos internacionais.
O g1 entrou em contato com o Itamaraty, o Ministério de Relações Exteriores do Brasil, sobre o julgamento de Daniela, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. O órgão só se pronunciou sobre o acompanhamento do caso (veja mais abaixo).
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Quem é a brasileira julgada por tráfico de drogas no Camboja?
Daniela foi para o Camboja com intuito de trabalhar com telemarketing
Arquivo Pessoal
Daniela Marys de Oliveira é natural de Minas Gerais e morando na capital paraibana João Pessoa desde novembro de 2024. Segundo a mãe de Daniela, Myriam Marys, a filha fala inglês fluentemente.
Até janeiro de 2025, a arquiteta enviou vários currículos para vagas de emprego na internet e encontrou uma que particularmente chamou atenção: uma vaga temporária para trabalhar como telemarketing no Camboja.
Daniela embarcou para o Camboja no fim de janeiro de 2025 mesmo contra a vontade da família. Até fevereiro, mãe e filha se comunicavam normalmente por aplicativos de mensagem on-line, mas, em março, a família começou a receber mensagens suspeitas, enviados por supostos golpistas que se passaram pela brasileira.
Ainda de acordo com a família, os golpistas teriam pedido dinheiro para Daniela pagar uma multa de rescisão contratual no trabalho como telemarketing. O valor da multa, US$ 4 mil, cerca R$ 27 mil, foi transferido, mas depois disso Daniela ligou para a mãe e contou que foi detida injustamente por tráfico de drogas no Camboja.
A mãe explicou que Daniela havia dito que três cápsulas de droga foram colocadas no banheiro porque ela havia se recusado participar de um esquema de golpes na internet.
Prisão em que brasileira está é superlotada
Como é a prisão em que brasileira está após tráfico humano denunciado pela família
Reprodução
Um relatório da Anistia Internacional aponta que o Camboja é reincidente em práticas de violação de direitos humanos e "superlotação de prisões". A mãe de Daniela, inclusive, disse que a filha está em uma cela superlotada em uma penitenciária, com cerca de 90 mulheres.
"As autoridades atacam pessoas pobres e marginalizadas, realizam detenções arbitrárias e sujeitam os suspeitos a tortura e outras formas de maus-tratos", diz a Anistia Internacional.
A análise faz um recorte até o período de 2020 do Camboja, no qual o país era comandado pelo primeiro-ministro Hun Sen, que foi sucedido pelo próprio filho Hun Manet, após governar o país por cerca de quatro décadas e implantar a política antidrogas.
Brasileira que morou na Paraíba está presa no Camboja
Itamaraty diz que acompanha o caso
Em nota, o Itamaraty disse que "tem conhecimento" do caso. No entanto, não deu detalhes do que está sendo adotado como providência para ajudar Daniela no Camboja.
"A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas", diz a nota.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, em 2024 foi prestada assistência a 63 brasileiros em situação de tráfico de pessoas, dos quais 41 no Sudeste Asiático.
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